Viajantes de todo o Brasil foram surpreendidos com a movimentação na Câmara dos Deputados para proibir a cobrança extra pela marcação de assentos e, principalmente, retomar o despacho gratuito de malas de até 23kg. Entenda como a Volta da bagagem despachada gratuita pode influenciar no seu bolso.
À primeira vista, a notícia soa como música para os ouvidos de quem costuma lutar para fechar o zíper da mala de 10kg ou precisa fazer malabarismo com os itens de cuidados pessoais que em via de regra ocupam um espaço considerável. Afinal, quem não gostaria de chegar ao aeroporto e despachar seus pertences sem colocar a mão no bolso? No entanto, especialistas do setor aéreo alertam que essa medida, vendida como um benefício ao consumidor, esconde uma armadilha que pode transferir esse custo para todos os bilhetes aéreos, cujo resultado é simples: Aumento da Tarifa.
Você sabe quanto custa, de verdade, a “gratuidade” que promete salvar seu bolso no check-in?
Muitos acreditam que as empresas aéreas apenas lucram excessivamente com as taxas extras, mas a realidade da composição tarifária é um pouco mais complexa. A resposta para essa charada financeira pode definir se você pagará R$ 300 ou R$ 800 no seu próximo trecho doméstico, e vamos desvendar esse mistério antes de você chegar às perguntas frequentes.
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A discussão sobre a volta da bagagem despachada gratuita toca em um ponto sensível: a sensação de que estamos pagando cada vez mais por menos serviços. O argumento legislativo é de que o consumidor está sobrecarregado e que a cobrança fracionada (mala, assento, despacho) não resultou na prometida queda dos preços das passagens anos atrás. Contudo, ao analisar a estrutura de custos da aviação, percebemos que obrigar as companhias a oferecerem o serviço de despacho “gratuitamente” para todos os passageiros cria uma distorção perigosa.
A Matemática que ensina que dinheiro não aceita desaforo!
Ao eliminar a possibilidade de cobrar separadamente pela mala, as empresas aéreas perdem a capacidade real de oferecer a chamada tarifa “Basic” ou “Light”. Essa tarifa foi desenhada justamente para o viajante de negócios, para o estudante que vai passar o fim de semana em casa ou para o turista “mochileiro” que viaja leve, apenas com uma mochila de costas ou mala de mão de 10kg. Se a lei obriga que todo bilhete inclua uma mala de 23kg, o custo logístico desse peso extra (combustível, manuseio, infraestrutura) será diluído no preço base de todos os bilhetes. Ou seja, você que viaja apenas com sua mochila pagará pela mala de 23kg do passageiro ao seu lado, mesmo sem usá-la. Essa [e a regra mais simples do mercado capitalista!

A Volta da bagagem despachada gratuita: O Fim da Liberdade de Escolha e o Impacto nas Low Cost
O modelo atual, fragmentado, permite que o consumidor pague apenas pelo que consome. É a democratização do acesso ao transporte aéreo: quem quer luxo e conforto, paga a tarifa “Premium” ou “Plus”; quem quer apenas deslocamento, paga a tarifa básica. A nova medida é vista por analistas de mercado como um retrocesso e uma anomalia jurídica, pois retira do consumidor o poder de escolha. Em vez de termos um menu de opções com preços variados, corremos o risco de ter um preço único e nivelado por cima.
Além disso, há um impacto direto na competitividade. O Brasil tem atraído empresas Low Cost (baixo custo) justamente pela flexibilidade das regras atuais. Essas empresas operam com margens apertadíssimas e conseguem vender passagens baratas porque cobram por absolutamente tudo que é extra. Ao impor uma regra rígida de gratuidade, o Brasil cria uma barreira de entrada para essas companhias estrangeiras, diminuindo a concorrência e, ironicamente, favorecendo o aumento de preços das companhias tradicionais que já dominam o mercado.

Um Problema Jurídico Internacional
Outro ponto crítico levantado na análise do cenário atual é a ilegalidade da medida frente aos acordos internacionais. O Brasil é signatário de tratados, como os geridos pela IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos), que preveem a reciprocidade de regras e a liberdade tarifária.
Imagine a confusão: uma companhia aérea estrangeira, como a Lufthansa ou American Airlines, opera com regras de seu país de origem. Ao obrigar essas empresas a seguirem uma regra exclusiva do Brasil — que, diga-se de passagem, seria única no mundo, já que nem países com economias fechadas aplicam tal restrição de forma tão rígida —, criamos uma insegurança jurídica. Isso pode levar ao cancelamento de rotas ou ao encarecimento absurdo de voos internacionais saindo do Brasil, já que as empresas precisariam criar uma “exceção brasileira” em seus sistemas globais de precificação.
O Que Muda na Prática para Bagagem de Mão e Despachada
É fundamental diferenciar o que está em jogo. Atualmente, a resolução da ANAC garante ao passageiro o direito de levar gratuitamente uma bagagem de mão 10kg, além de um item pessoal (mochila ou bolsa). O que a nova proposta defende é a permanencia da gratuidade da bagagem de 10Kg e incluiu a mala despachada, aquela maior que vai no porão da aeronave.
A confusão é comum, mas o impacto operacional é distinto. A bagagem de mão gera problemas de espaço na cabine (quem nunca viu a briga por um lugar no bagageiro?), mas a bagagem despachada gera custo de peso e combustível. Retornar à obrigatoriedade do despacho gratuito é ignorar a evolução da aviação mundial nas últimas duas décadas, onde a eficiência e a desagregação de serviços foram essenciais para manter o setor voando, especialmente pós-pandemia.
FAQ – Perguntas Frequentes sobre a Volta da bagagem despachada gratuita
1. A volta da bagagem despachada gratuita já é lei? Não. Trata-se de um Projeto de Lei (PL) aprovado na Câmara, mas que ainda precisa tramitar no Senado e ser sancionado pela Presidência. Até lá, as regras atuais de cobrança continuam valendo.
2. Posso levar minha mala de 10kg a bordo sem pagar? Sim. Pelas regras atuais da ANAC, todo passageiro tem direito a uma mala de mão de até 10kg e um item pessoal, desde que respeitem as dimensões da cabine. Com o movimento das empresas para cobrar esta bagagem o resultado da PL 5.041/25 que seguiu para Senado.
3. Se a lei for aprovada, as passagens vão ficar mais baratas? A tendência, segundo especialistas, é o oposto. As empresas devem embutir o custo operacional do despacho no valor base da passagem, eliminando as tarifas promocionais mais baratas.
4. Como ficam os voos internacionais com essa mudança? Ainda é uma zona cinzenta. Pelo princípio da reciprocidade e acordos internacionais, o Brasil não poderia impor suas regras tarifárias a empresas estrangeiras, o que pode gerar disputas judiciais ou saída de companhias do país.
5. O que acontece se minha mala de mão passar de 10kg? Atualmente, a companhia pode obrigar o despacho e cobrar por ele no portão de embarque. O valor costuma ser muito mais alto do que se comprado antecipadamente pelo site.
6. Qual a diferença entre bagagem despachada e bagagem de mão? Bagagem de mão vai com você na cabine (até 10kg). Bagagem despachada vai no porão do avião (geralmente 23kg) e você só a recupera no destino final.
Editorial
A intenção de proteger o consumidor e garantir “mais direitos” é louvável no papel, mas na complexa matemática da aviação, não existe almoço — nem despacho — grátis. A aprovação definitiva dessa medida pode dificultar tarifas verdadeiramente promocionais que permitem a tantos brasileiros viajar apenas com uma mochila nas costas quanto suas malas de porão. O mercado de milhas e viagens exige estratégia, e entender que a flexibilidade tarifária é, muitas vezes, amiga do seu bolso, é o primeiro passo para viajar mais e melhor. Fique atento às votações no Senado, pois elas definirão o custo das suas próximas férias.
Sobre Luiz Carlos Jr
Luiz Carlos Jr é editor da Revista Vertical Plus há mais de seis anos e apaixonado por explorar o mundo, criando conteúdos sobre destinos turísticos, experiências culturais e dicas de viagem para leitores que buscam viajar mais, melhor e mais barato. Formado em Matemática, combina precisão e planejamento para mostrar como viajar pode ser seguro e acessível. Para ele, cada viagem é uma oportunidade de viver melhor e ampliar horizontes — e um ótimo lugar para investir seu dinheiro.





